terça-feira, 14 de setembro de 2010

Movimento de implosão

Meses antes do período eleitoral, o senador Magno Malta (PR) dizia que não usaria a CPI da Pedofilia como bandeira política. Mas, jamais acreditaria nisso quem assistiu a novela da CPI do Narcotráfico.

Não há dúvida que o combate à pedofilia é de extrema importância no mundo inteiro. Acontece que para investigar e aplicar as penalidades cabíveis existem a Polícia Federal, o Ministério Público, o judiciário com a Vara da Criança e Adolescente e outros setores.

Ou seja, o trabalho da CPI no Senado é apenas um braço nesta luta em favor das crianças e não o agente principal. Da forma como é colocada, Magno Malta aparece com um semideus que veio à terra para prender os pedófilos, sem considerar o pecado de utilizar um tema delicado para conseguir se reeleger no Senado – exatamente como fez com o assunto narcotráfico.

As bases católicas já mostraram insatisfação com a campanha de Magno. Até hoje, a igreja não engoliu a forma como se deu a prisão de um monsenhor em Alagoas, tida como um show pirotécnico.

Agora, até mesmo representantes da igreja evangélica – principal eleitorado do senador, que é pastor - estão se opondo à campanha eleitoral pautada na pedofilia. Conforme publicado em A Gazeta, o coordenador de comunicação do Fórum Político Evangélico do Espírito Santo e presidente da Associação dos Pastores Evangélicos da Grande Vitória, Enoque de Castro, afirmou que Magno tem exagerado ao focar com privilégio o combate à pedofilia e ao narcotráfico.

"Eu acho que ele está usando excessivamente essa questão de pedofilia, assim como também levantou como bandeira a questão do narcotráfico na eleição passada. A assessoria dele deve achar que com isso estão alcançando algum sucesso e atingido objetivo. Acho que deve ter propostas mais voltadas pra questões sérias de nosso Estado. O trânsito na região metropolitana, por exemplo. Cabe ao Estado, senadores e deputados federais tentar intervir na resolução desse problema", disse.

Reeleição

Mesmo sem também concordar com a apelação da campanha de Magno Malta, vejo que a sua reeleição está consolidada, embora só as urnas possam confirmar. O senador terá de ter a destreza de administrar o que tem, se conseguir não há dúvida que será o candidato mais votado.

Agora, se a insatisfação da igreja se alastrar e atingir os milhares de fieis capixabas, vai ser difícil para Magno administrar a posição que ocupa atualmente. Ao que se vê, a água começou a entrar no barco do republicano; com a ausência de habilidade para retirar essa água, Magno pode perder o posto para Ricardo Ferraço (PMDB). No pior das hipóteses - que eu duvido -, para Rita Camata (PSDB).

Carta

Segue abaixo a carta assinada pelos religiosos D. Luiz Mancilha Vilela, Arcebispo de Vitória do Espírito Santo; D. Décio Sossai Zandonade, Bispo de Colatina; D. Zanoni Demettino Castro, Bispo de S. Mateus; Pe. Antonio Tatagiba Vimercat, Administrador diocesano de Cachoeiro de Itapemirim:


Nós, bispos da Província Eclesiástica do Espírito Santo, sentimos a necessidade de esclarecer os católicos e pessoas de boa vontade sobre o seguinte:


1. A Igreja não exerce política partidária, portanto, não indica partido ou candidato durante as campanhas políticas. Porém, a Igreja, em seu discurso e ação defende a política do bem comum e a construção da democracia. "A Igreja tem o dever de oferecer, por meio da purificação da razão e através da formação ética, a sua contribuição específica para que as exigências da justiça se tornem compreensíveis e politicamente realizáveis". "A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível [...]. Mas toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem" (Deus Caritas Est 27).

2. Recentemente, foi veiculado durante a propaganda eleitoral do candidato ao Senado, senador Magno Malta, o depoimento de um padre e de um bispo sobre atividades do candidato. Nós não concordamos com a veiculação de imagens de padres e bispos para apoiar um determinado candidato. Mais grave ainda, quando o padre e o bispo afirmam não terem autorizado o uso das imagens para fins eleitorais. Esta atitude fere o Princípio de Direito de Imagem resguardado pela Constituição.

3. Orientamos todos os católicos que se posicionem criticamente diante desta campanha que coloca o foco na CPI da pedofilia e na CPI do narcotráfico. Estes temas exigem nossa reflexão e atitude, mas não concordamos que a dor, a humilhação e o sofrimento das crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual e tráfico de drogas e de armas, sejam transformados em espetáculo para angariar votos.

Caríssimos padres, lideranças católicas e pessoas de boa vontade, mantenhamo-nos dentro de nossos direitos sem violar o direito do outro, mas não nos omitamos nos esclarecimentos que devem ser dados a quem precisa, de forma que o voto seja consciente e responsável. O voto é um compromisso. É uma procuração que cada um dá ao candidato em quem vota.

Não podemos ser coniventes com pessoas que não têm ética na política.

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