(Artigo publicado no jornal Aqui Notícias)
Não é de hoje que tento imaginar qual é a função do Partido Verde (PV) em Cachoeiro de Itapemirim. Tenho muito respeito aos seus integrantes e à sua executiva, porém o assunto a ser tratado é mais amplo e não tem a intenção de quaisquer subtrações.
Para não cometer injustiças, recorri a alguns pontos da Carta Verde da Terra, a qual imagino que seja a diretriz para os filiados do PV. E para quem não é do partido ou não se envolve com assuntos relacionados à política sempre que ouve falar de PV pensa logo na proteção ao meio ambiente. O problema é que as coisas não são bem assim.
Sublinhando a Carta Verde da Terra, encontrei dizeres importantes e que deveriam ser bandeira de todo ser humano, não apenas para os membros do PV, que se comprometeram com a causa.
“(...) Unidos em nossa consciência de que dependemos da vitalidade, da diversidade e da beleza da Terra e que é nossa responsabilidade não deixá-la deteriorada e até melhorá-la para a próxima geração; (...) Reconhecendo que os padrões dominantes de produção e consumo humanos, baseado no dogma de crescimento econômico a qualquer custo e o excessivo e devastador uso dos recursos naturais sem considerar a capacidade de regeneração do planeta, estão deteriorando o meio ambiente e causando uma maciça extinção de espécies;”.
Essa é uma parte do embasamento para o grito próximo: “(...) - Declaramos que o novo milênio fornece um ponto determinante para começarmos essa transformação; (...) Resolvemos promover um conceito geral de sustentabilidade, o qual: - protege e restaura a integridade dos ecossistemas da terra, com interesse especial para a biodiversidade e os processos naturais que sustentam a vida;”.
Enfim. Tem muito mais na carta e os interessados a podem encontram no site do próprio partido. O que não é possível encontrar são ações do PV de Cachoeiro baseadas neste documento que dá vida à sigla.
Não me lembro, nos últimos três anos, de um evento sequer do PV debatendo soluções para o meio ambiente. Não me lembro de nenhum discurso na Câmara Municipal, onde tem dois vereadores (um chefia pasta na prefeitura), direcionado a políticas de reaproveitamento dos subprodutos do processo de extração e beneficiamento de rochas.
Não me lembro do partido ter se manifestado quando houve a denúncia de corte ilegal de árvores nativas em Cachoeiro. Não me lembro de o partido ter promovido campanhas ambientais focadas em quaisquer assuntos: seja economia de água, devolução de embalagem de agrotóxicos etc.
Em 2010, o vereador Júlio Ferrari travou briga com a Foz do Brasil contestando os números apresentados pela concessionária e tentando obrigar a empresa a instalar aparelho eliminador de ar nos hidrômetros. Júlio chegou a chorar no plenário ao não ter apoio de seus pares no projeto. Eleito presidente da Câmara Municipal, ninguém sabe o porquê do silêncio repentino.
A verdade é que a linha de frente do PV para as eleições de 2008 foi construída com forte influência do PMDB, que era governo (2005/08). Não houve nenhuma intenção em alocar no partido pessoas comprometidas com as causas ambientais; sabe-se lá se a própria sigla tinha.
Agora, o PV prossegue, de costas para a Carta Verde da Terra, sendo conveniente a outro governo. Cala quando é para calar e, até mesmo, quando não é. Pequeno na estrutura e nas filiações, o Partido Verde ocupa cargos importantes: tem a presidência da Câmara Municipal, a Secretaria de Serviços Urbanos, além de subsecretarias e gerências.
Mas, mesmo caminhando ao lado dos petistas, articula candidatura própria. Afinal de contas, Abel Santana não foi candidato a deputado federal somente na tentativa de ampliar a representatividade em Brasília. Há quem diga que o partido até abre mão para compor como vice e pode ter uma baixa séria por isso.
Ou seja, o PV de Cachoeiro não está por todo destoante de seus propósitos originais. “Art. 2º - O PARTIDO VERDE - PV, tem como objetivo alcançar o poder político institucional, de forma pacífica e democrática...”. O poder, seja ele qual for, está em seu horizonte; enquanto a Carta Verde da Terra... quem sabe o recém-criado Partido do Meio Ambiente (PMA) a faça valer.
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